35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
A+
A-
35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
Menu
Vista de obras de Zumví Arquivo Afro Fotográfico durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Zumví Arquivo Afro Fotográfico

O que significa constituir um arquivo fotográfico da vida afro-brasileira, através dela e para ela? O Zumví Arquivo Afro Fotográfico é a resposta mais próxima que temos para essa pergunta. Fundado em 1990 por Lázaro Roberto, Ademar Marques e Raimundo Monteiro, e fisicamente instalado entre o Pelourinho e a Fazenda Grande, em Salvador, Bahia, Zumví abriga 30 mil fotografias (além de documentos pessoais, cartazes, cartões-postais e documentos diversos) que abrangem três décadas. Em sua essência, é um arquivo comunitário, que existe sem apoio institucional nem burocracia. Seu vasto acervo de imagens combina pontos turísticos e rotas de protesto com cenas cotidianas de rua, formando um espaço visual que revela de modo preciso como as esferas social e política se desenrolaram na Bahia nas últimas décadas do século 20. Envolvendo várias perspectivas fotográficas, essas imagens captam a dor e o orgulho, o amor e a insistente possibilidade incorporada à negritude.

De modo geral, Zumví constitui uma afirmação da existência e da autonomia afro-brasileiras, articulada por meio da noção de aquilombamento. Mais do que um acúmulo de representações, a clareza política da finalidade do arquivo é imediatamente legível em seu nome: uma contração simultânea de zum-vi (zoom da lente fotográfica e o verbo

ver no modo pretérito perfeito do indicativo) e uma invocação a Zumbi, líder do quilombo dos Palmares, uma monumental comunidade de quilombos que resistiu aos portugueses e aos holandeses por um século inteiro (1595-1695). Por meio dos esforços contínuos de Lázaro Roberto e de seu sobrinho José Carlos, o espírito de autodeterminação do Zumví Arquivo Afro Fotográfico integra a fotografia como um local de luta sociopolítica, um lugar em que o trabalho de movimento pode acontecer. A acadêmica e ativista sergipana Beatriz Nascimento (1942- 1995) argumenta que “o quilombo é fundamentalmente uma condição social, um lugar onde se pratica a liberdade […], é a aceitação da cultura negra”1. Levando-se a sério esse seu argumento, o arquivo então pode ser considerado uma extensão pictórica dessa condição social. Zumví é uma passagem fugitiva tornada fotográfica, um lugar onde a consciência negra é cultivada na fixação da imagem e se expande para além do enquadramento.

oluremi onabanjo
traduzido do inglês por naia veneranda

1. Beatriz Nascimento, “O conceito de quilombola e a resistência afro-brasileira.” Afrodiáspora, n. 6-7, 1985, pp. 41-49.

Zumví Arquivo Afro Fotográfico foi criado em 1990 por Lázaro Roberto, Aldemar Marques e Raimundo Monteiro nas periferias de Salvador, e guarda a produção fotográfica dos três fundadores desde os anos 1970, com registros de atividades políticas e culturais, e imagens da cultura afro-brasileira. Seu nome deriva da combinação da palavra “zum”, que traz o que está longe para perto na fotografia, e “vi”, de ter visto. Hoje, o projeto é dirigido por Lázaro Roberto com o apoio do historiador José Carlos Ferreira, que juntos trabalham para a disponibilização do acervo para pesquisadores do campo da documentação, cultura, memória e raça.

Para a 35ª Bienal, serão apresentadas fotografias de Lázaro Roberto, Geremias Mendes, Raimundo Monteiro, Aldemar Marques, Jonatas Conceição, Rogério Santos e Lúcio Flávio.