35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista da obra Nimajay Guarani de Edgar Calel durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Edgar Calel

A onça-pintada é uma figura proeminente nas culturas mesoamericanas, aparecendo em vários tipos de representações. Na cultura e mitologia maia, a onça-pintada tem a capacidade de transcender o espaço e o tempo, e de atravessar entre o dia e o espiritual para facilitar as comunicações e as conexões entre os mundos dos ancestrais e dos vivos. 

No vídeo XAR – Sueño de Obsidiana [XAR – Sonho de Obsidiana] (2020), realizado com o cineasta brasileiro Fernando Pereira dos Santos no interior do Pavilhão Ciccillo Matarazzo da Bienal de São Paulo, durante a primeira onda da pandemia de Covid-19 no Brasil, o artista maia Edgar Calel veste a pele de uma onça enquanto caminha pelo pavilhão procurando ver e entender como o local foi originalmente ocupado pelos indígenas que habitaram originalmente esse território. Isso constitui, a um só tempo, uma transmutação entre humanos e não humanos e uma transcendência do espaço e do tempo. É também um ato de construção de solidariedade ou de prática comunitária. Ao longo do vídeo, Calel veste um moletom azul bordado com os nomes das 22 línguas maias, enquanto recita na língua caqchikel um poema seu, composto a partir de sonhos que teve no Brasil durante a pandemia, cujo título é homônimo do filme. 

A partilha em comunidade é um tema fundamental para a produção artística de Calel. A instalação da Casa Guarani de Calel na 35ª Bienal de São Paulo é um grande desenho imersivo sobre tela de uma casa guarani, cercada por bordados de plantas de iúcas. O desenho é uma imagem arquitetônica e, também, uma representação da epistemologia indígena − um mapa da prática da comunidade em torno de uma fogueira enquanto compartilha histórias, rituais, música e meditação. O desenho reorienta o espaço da horizontal para a vertical e convida o espectador a participar do imaginário comunitário da indigeneidade. O povo Guarani é o maior grupo indígena do Brasil, cuja população sobrevivente é estimada em 51 mil pessoas. Hoje, três aldeias guaranis, com população total de aproximadamente setecentos indígenas, vivem no bairro do Jaraguá, na periferia da cidade de São Paulo.

mario gooden

Edgar Calel (Chi Xot, Guatemala, 1987. Vive em Chi Xot) trabalha com múltiplas mídias, explorando as complexidades da experiência indígena, como visto através da cosmovisão, espiritualidade, rituais, práticas comunitárias e crenças maias e kaqchikel, em justaposição com o racismo sistêmico e a exclusão que os povos indígenas da Guatemala suportam diariamente. Ele teve sua primeira exposição individual, Pa Ru Tun Che ́ (From a Tree Top), no Proyectos Ultravioleta (Cidade da Guatemala); e participou de várias exposições coletivas, incluindo 12ª Bienal de Liverpool (Inglaterra); 14ª Bienal de Gwangju (Coreia do Sul); 58th Carnegie International (Pittsburgh, PA, EUA); entre outras. Suas obras fazem parte das coleções permanentes da Tate Modern (Londres, Inglaterra); do Museo Reina Sofía (Madri, Espanha); da National Gallery of Canada (Ontário); entre muitas outras.