35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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2023
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Vista da obra The Wake [A Vigília], de The Living and the Dead Ensemble, durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

The Living and the Dead Ensemble

A espiral é a imagem que abre Ouvertures (2019), primeiro filme do coletivo transnacional The Living and The Dead Ensemble [algo como Conjunto dos Vivos e dos Mortos]. A imagem é a síntese do que move o processo de criação do grupo: uma linha sinuosa em contínuo movimento de aproximação/afastamento, de dentro/para fora, sem começo ou fim. Nos filmes e nas instalações desse coletivo, criar é uma questão de percorrer, deslocar − Haiti-França, floresta-praia, passado-futuro, revolução-crise. Poesia, performance, cinema, música e teatro mesclam-se com intensidades variadas e indistintas − como em The Wake [A vigília] (2019 – em curso), o segundo trabalho do grupo, que é a um só tempo instalação multicanal, peça, filme e manifesto preto radical. 

A espiral dá forma ao processo criativo que se constrói em ato, em encarnação e em evocação dos fantasmas − tornando visível e vivo aqueles e aquilo que jamais deixaram de estar ali. Assim, ao ritmo do créole, poetas e revolucionários de diferentes épocas encontram- se e conversam por meio de processos de fabulação e ativação. A fala dilui as fronteiras entre os mortos e os vivos − como o nome do grupo anuncia. Frankétienne, Toussaint Louverture, Édouard Glissant, Patrick Chamoiseau e tantos outros artistas/intelectuais/revolucionários confabulam na proposição de uma imaginação caribenha utópica, urgente e atemporal.

Nessa sinuosidade, as vozes − dos fantasmas, dos revolucionários e dos integrantes do coletivo − sobrepõem-se em imagens multiplicadas em telas simultâneas ou em sons que são ecoados pelos integrantes do grupo que estão sobre um palco. Nesse amálgama proposto pelas criações, raps, discursos, narrativas de revoltas pretas, forma-se um coro cacofônico no qual a materialidade caótica de sons e de histórias é intrínseca aos sentidos das obras. E o fogo (elemento recorrente dessas produções) arde nas noites em que se sonham e se lembram das revoluções. As chamas destroem e transformam − também em movimento contínuo. Seguindo esse deslocamento por entre (mundos, tempos, países), a música e a dança performada pelos integrantes do coletivo convocam o corpo também a queimar, e convidam a quem assiste a vislumbrar na carne das obras utopias (im)possíveis.

kênia freitas

The Living and the Dead Ensemble é um grupo de artistas, performers e poetas do Haiti, França e Reino Unido, formado em Port-au-Prince (Haiti) em 2017 para produzir um performance da peça Monsieur Toussaint, de Édouard Glissant, traduzida para o crioulo haitiano. Através de textos, performances, filmes e instalações, seus trabalhos exploram diferentes métodos possíveis de contar o passado e o presente através de uma lente caribenha. Seu primeiro filme, OUVERTURES (2020), foi premiado no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Alemanha). Apresentaram seus trabalhos na Sharjah Biennial 15 (EAU) e no Badischer Kunstverein (Karlsruhe, Alemanha), após uma residência na instituição. Seus membros são Cynthia Maignan, Dieuvela Cherestal, James Desiris, Léonard Jean Baptiste, Louis Henderson, Mackenson Bijou, Mimétik Nèg, Olivier Marboeuf, Rossi Jacques Casimir e Sophonie Maignan.