35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obra de Marilyn Boror Bor durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Marilyn Boror Bor

Para a Bienal de São Paulo, a artista de origem Maya-Caqchiquel Marilyn Boror Bor apresenta dois projetos que exploram seu compromisso com a visão contra etnográfica e com a desarticulação de formas de colonialidade. Seguindo os modelos do monumento europeu e da museografia etnográfica, os objetos e as ações de Bor modificam as percepções hegemônicas e o escrutínio de um público condicionado por estereótipos e por preconceitos. Monumento vivo (2023) é uma ação na qual o corpo da artista, vestido com o traje maia, é disposto em uma base na qual suas pernas ficam momentaneamente presas no cimento. Nos quitaron la montaña, nos devolvieron cemento [Tiraram a montanha de nós, nos devolveram cimento] (2022) consiste em uma série de objetos tradicionais produzidos com cimento. 

Simulando breves ficções, Boror Bor substitui o milho da comida pelo cimento, a argila dos potes pelo peso desse outro material, por meio do qual a alma (cux, na língua caqchiquel) e o valor simbólico originais dos objetos vão se perdendo. Ambas as obras constituem uma resposta aos debates sobre o modelo de desenvolvimento econômico na Guatemala e o extrativismo feroz que afeta tantas pessoas no continente e, em particular, em San Juan Sacatepéquez, cidade onde a artista nasceu. Tanto o monumento quanto os objetos configuram um ato de enunciação dos conflitos gerados pela implementação de uma indústria que literalmente recobre de pó de cimento os campos férteis, as fontes de água e todos os recursos vivos dessa região. 

Não existe a palavra arte entre os povos nativos. O uso de elementos ocidentais associados ao mundo da arte é uma estratégia para revelar a situação difícil, mas também para resgatar a presença e a reverberação dos referentes originais. A intenção de Boror Bor é tirar proveito de certas características dessas linguagens totalizantes, institucionalizadas e acadêmicas para desmantelar os lugares-comuns que o multiculturalismo proporcionou. Como artista indígena contemporânea, seu desejo é resgatar cosmogonias que foram invisibilizadas e fragmentadas ao longo dos séculos. 

rossina cazali
traduzido do espanhol por ana laura borro

Marilyn Boror Bor (San Juan Sacatepéquez, Guatemala, 1984. Vive em San Juan Sacatepéquez) é uma artista maia-kaqchikel cujo trabalho se opõe a visões patriarcais e racistas por meio de desenho, pintura, fotografia, design gráfico, instalação e performance. Seu trabalho foi exibido na BIENALSUR 2021 (Argentina), Bienal del Sur – Pueblos en resistencia (Venezuela) e na XIX, XX, XXII e XXIII Bienal de Arte Paiz (Guatemala), entre outros.