35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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Vista da obra de Min Tanaka e François Pain Min Tanaka à La Borde [Min Tanaka em La Borde] durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Min Tanaka e François Pain

Uma pessoa vestida com trapos caminha com dificuldade. As roupas modestas talvez tenham alguma relação com o filme A louca de Chaillot.1 Desajeitada, a figura quase parece que está aprendendo a andar. No entanto, seu aprendizado não é nada funcional, e sua maneira de se relacionar com o mundo não é comum. Mas essa dificuldade resulta em uma beleza de movimentos que se torna algo mais belo do que uma simples sequência de passos: é uma dança. Todas as partes do corpo atuam e interagem entre si, mas não da forma esperada. Pés, pernas e braços se movem de forma inverossímil, gerando correlações e reciprocidades inesperadas com tudo o que está à sua volta, seja humano ou não. Essa ação foi realizada pelo dançarino e ator (como ele mesmo se descreve) Min Tanaka na clínica francesa La Borde, onde Félix Guattari trabalhou por um tempo com Jean Oury, fundador da clínica. Ambos psicanalistas, Félix e Jean procuraram criar um espaço que não reproduzisse relações hierárquicas de poder, um lugar de intercâmbio entre assistentes e pacientes, entre equipes de serviços e médicos. A forma como ele se relaciona com os pacientes de La Borde evoca acompanhamento, afeto e aprendizado mútuo. Esse é o elemento coreográfico do impossível que permeia esta obra. Tanaka é um dançarino japonês que atua na contramão da dança tradicional. Desde 1974, tem desenvolvido um modelo muito específico de performance que rompe com as disciplinas e que ele chama de hiperdança, enfatizando a unidade psicossocial de um corpo sem órgãos ou funções predeterminadas. Ao longo de sua carreira, desenvolveu uma prática que é impossível de ser classificada. Em suas palavras: “uma dança sem nome”. Tanaka já disse em alguma ocasião que juntos encarnamos um corpo único que não pertence a ninguém: o corpo da terra. 

Min Tanaka à La Borde [Min Tanaka em La Borde] (1986) foi realizado por François Pain, um cineasta francês que colaborou com Félix Guattari em La Borde, e cuja obra se concentra em questões de esquizoanálise e antipsiquiatria, entendendo o cinema como uma máquina para gerar espaços de cuidado. 

sylvia monasterios e tarcisio almeida

Min Tanaka (Tóquio, Japão, 1945) é dançarino e atua contra a corrente da dança tradicional. Desde 1974 desenvolve projetos artísticos que rompem com as categorias disciplinares da dança, enfatizando uma unidade psicossocial de um corpo sem órgãos e sem funções pré-determinadas. Tanaka colabora ativamente com artistas visuais, músicos, grupos musicais, companhias de teatro e dança no Japão e internacionalmente.

François Pain (Paris, França, 1945) é diretor e autor de vários filmes relacionados a esquizoanálise e antipsiquiatria. Foi colaborador ativo de Félix Guattari, quando trabalhou na clínica La Borde. É cofundador da Fédération de Radios Libres Non Commerciales [Federação das Rádios Livres Não Comerciais], da Radio Tomate, das associações Canal Déchaîné (1991) e Chaosmédia (1994). François Pain entende o cinema como uma máquina que serve para gerar espaços de cuidado.

Esta participação é apoiada por National Center for Art Research, Japão.

1. Dirigido por Bryan Forbes, A louca de Chaillot (1969) é um filme de comédia dramática, de coprodução britânica e estadunidense, baseado na peça La Folle de Chaillot (1945), de Jean Giraudoux.