35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Vista de obras de Rosana Paulino durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Rosana Paulino

Hipersexualização, trabalho servil e mãe preta. Esses são alguns estereótipos de mulheres negras presentes no imaginário brasileiro. Essa coisificação e apropriação sexual do corpo regulam condutas e constroem identidades sempre nocivas. Naturalizam, reduzem e fixam esses corpos em uma relação de dominação que perpassa gênero, raça e classe, sujeitando as mulheres negras a situações de grande vulnerabilidade social. Em um movimento de contestação que perpassa toda a sua trajetória, Rosana Paulino, ao confrontar as tais violências, desconstrói estereótipos e as representações do corpo feminino racializado, ao tensionar (ou revelar) como as teorias científicas fundamentaram as teorias raciais na história oficial. Educadora, pesquisadora com doutorado em artes visuais e intérprete do Brasil, Paulino faz do corpo um lugar de memória; um corpo que opera pensamento e abriga questões a serem revisitadas. Falando por e para esse corpo, ela tece, desestabiliza e subverte as certezas da colonialidade que nos atravessa. 

O corpo da artista também carrega o tempo. Um tempo transformador que interrompe violências e que perturba o sossego do rio, reconfigura memórias e tece outras narrativas e mitologias. Nas séries de 2019 Búfala, Senhora das plantas e Jatobá, ao questionar a construção de uma subjetividade que não contempla o feminino negro, Paulino constrói outros arquétipos e reivindica as afetividades e as psiques expropriadas, revelando a proximidade dessas mulheres com a natureza, cujos corpos se fundem com plantas e animais, enraizando, cultivando galhos e ampliando a valorização de outras sabenças, todas enredadas pela ancestralidade. 

E estar enredado, nas religiões de base africana e afro-brasileira, é ser um pouco as coisas, ou seja, nessas religiões, as mulheres são constituídas e constituem a natureza. Como é o caso da série Mulheres-Mangue (2022-2023), a avó das avós da série Jatobá, que, com suas raízes aéreas − já não é mais necessário se esconder – e conectadas, como é o pensamento afro-diaspórico, possibilita trocas e vivem entre mundos: é vida e morte, começo e fim, terra e água, salgado e doce, preto e branco, e é o meio, como a lama. 

barbara copque

Rosana Paulino (São Paulo, Brasil, 1967. Vive em São Paulo) é artista visual, pesquisadora e educadora, com doutorado em artes visuais pela Universidade de São Paulo e especialização em gravura pelo London Print Studio. Sua obra dialoga com questões sociais, étnicas e de gênero, com foco especial nas mulheres negras na sociedade brasileira e nos vários tipos de violência sofridos por essa população devido ao racismo e ao legado duradouro da escravidão. Entre outras exposições, seu trabalho foi exposto na mostra principal da 59ª Bienal de Veneza (Itália) e na 21ª Bienal Videobrasil (São Paulo, Brasil).