35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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Vista de obra de Simone Leigh e Madeleine Hunt-Ehrlich durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Simone Leigh e Madeleine Hunt-Ehrlich

Simone Leigh e Madeleine Hunt-Ehrlich trabalham juntas há muitos anos como parte de uma associação informal de mulheres artistas, acadêmicas e outras produtoras culturais, em sua maioria negras, várias das quais aparecem em Conspiracy [Conspiração] (2022). 

Antes desse projeto, ambas participaram do arquivo da United Order of Tents – o mais antigo grupo de mulheres afro-americanas nos Estados Unidos, criado por ex-escravizadas em 1867. Esse envolvimento levou ao “documentário surrealista” de Hunt-Ehrlich, Spit on the Broom [Cuspir na vassoura] (2019), que buscava demarcar o significado do grupo, sem revelar os segredos que ajudaram aquelas mulheres a sobreviver por mais de um século. Essa preocupação – como falar sobre uma história que é secreta e cujo poder deriva desse segredo – é central para as práticas dessas duas artistas. 

Em Conspiracy, Leigh e Hunt-Ehrlich sobrepõem fotos renderizadas das ferramentas e processos do ofício de Leigh, com vocalizações e narrações fantasmáticas extraídas dos livros Flash of the Spirit: arte e filosofia africana e afro-americana1, de Robert Farris Thompson, e Tell My Horse, de Zora Neale-Hurston2. A amplitude diaspórica dos interesses das artistas fica clara em ambos os textos, que discutem as práticas tradicionais na África Central e no Caribe, respectivamente. A voz de Deborah Anzinger, também participante da 35a Bienal, e a canônica artista performática Lorraine O’Grady também aparecem no filme. 

Uma apreensão completa desse trabalho requer que você tenha ideia de quem é O’Grady, do significado dela para a história da arte e o lugar que as mulheres negras ocupam (ou deixam de ocupar) nesse campo. Você também vai perder alguma coisa se não conhecer a exploração contínua de Ehrlich-Hunt sobre a interioridade e os arquivos das mulheres negras – como seu trabalho sobre Suzanne Roussi-Césaire, escritora martinicana e ativista feminista anticolonial. Há também algo na inclusão de Deborah Anzinger, sua leitura de Hurston, ela mesma um pivô diaspórico. Se por acaso você reconhecer a autora Sharifa Rhodes-Pitts, outra co-conspiradora de longa data, e conhecer o suficiente de seu trabalho para entender por que ela foi incluída, terá entendido um pouco mais. O filme nos provoca, pois nem os nomes de Anzinger nem de Rhodes-Pitts aparecem nos créditos. Afinal, é uma conspiração. Entendedores entenderão. 

Você pode tentar se inscrever nesses acontecimentos como eu fiz, por exemplo, procurando o álbum de 1974 de Jeanne Lee que deu nome ao filme. E olha, estou feliz por ter feito isso. O que você está esperando? Não vou te dizer. Já listei muitos nomes. O que posso te contar é que existe uma razão para este ser um filme sobre o trabalho. Até então, sente-se e fique assistindo aquela coisa que foi investida de tanto valor, aqueles objetos mais exaltados que os pobres mortais que os produziram, queimar. 

nicole smythe-johnson
traduzido do inglês por  naia veneranda

Simone Leigh (Chicago, IL, EUA, 1976. Vive em Nova York, EUA) situa sua pesquisa em cruzamentos entre gênero e raça, criando esculturas, vídeos, instalações e práticas sociais que valorizam a interioridade da mulher negra. Seu trabalho escultórico, baseado principalmente em bronze e cerâmica, cria um vocabulário a partir do corpo feminino, elementos e tradições africanas e de suas diásporas. Leigh foi premiada na Bienal de Veneza (2022) com o Leão de Ouro de melhor participação nacional. Sua obra foi exposta em importantes instituições como o Institute of Contemporary Art (Boston, MA, EUA), Solomon R. Guggenheim Museum (Nova York, EUA), Whitney Biennial 2019 (Nova York, EUA) e Tate Modern (Londres, Inglaterra).

Madeleine Hunt-Ehrlich (1987. Vive em Nova York, EUA) é cineasta e artista. Seus filmes tratam da interioridade da mulher negra. Seu trabalho tem sido exibido no mundo inteiro, caso da Berlinale (Alemanha, 2023), 59ª Bienal de Veneza (Itália), Guggenheim Museum, Whitney Museum of Art (Nova York, EUA) e Tate Modern (Londres, Inglaterra). Recebeu os prêmios especial do júri de melhor filme experimental no Blackstar Film Festival e no New Orleans Film Festival, além do Herb Alpert Award (2023), Creative Capitol Award (2022), Rema Hort Mann Award (2019), Princess Grace Award (2014). Foi eleita uma das 25 revelações do cinema independente na lista da revista Filmmaker (2020).

1. Robert Farris Thompson, Flash of the spirit: arte e filosofia africana e afro-americana (1984). São Paulo: Museu Afro Brasil, 2011.
2. Zora Neale-Hurston, Tell My Horse (1938). Nova York: Harper Collins, 2008.