35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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Vista de obra de Santu Mofokeng na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Santu Mofokeng

“Quem foram essas pessoas?
Quais foram suas aspirações?
Qual era a ocasião?
Quem está olhando?
Olhe para mim.”

Essas questões e provocações mesmerizantes feitas pelo fotógrafo Santu Mofokeng (1956-2020) surgem entremeadas aos cativantes retratos de famílias negras trabalhadoras e de classe média de um período em que o mundo foi à guerra duas vezes e o regime do Apartheid tomou conta das regiões meridionais do continente africano. Feito em colaboração com dez famílias das províncias de Gauteng, Noroeste e Estado Livre de Orange (África do Sul), The Black Photo Album / Look At Me: 1890-1950 [O álbum de fotos negro / Olhe para mim: 1890-1950] é uma monumental instalação de imagens e textos disfarçada como uma apresentação de slides de um álbum de fotografias. Revelando mais de oitenta diapositivos (35 imagens e 45 textos), a obra contrapõe formas conceituais e vernáculas; sujeitos individuais e coletivos; mundos espectrais e materiais. Como conjunto, The Black Photo Album / Look At Me: 1890-1950 constitui tanto um arquivo quanto uma assemblagem, formulação que o teórico Achille Mbembe considera “uma história que adquire coerência pela capacidade de produzir vínculos entre o início e o fim”1. 

Abarcando múltiplos recortes temporais, a peça começa durante os anos iniciais da democracia sul-africana, quando Mofokeng trabalhou no departamento de documentação visual do Instituto de Estudos Africanos da University of the Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul. Embora muitos se limitassem a representar o futuro da esfera pública em technicolor, Mofokeng voltou-se para dentro, orquestrando esse projeto de pesquisa aprofundado, fundamentado no passado monocromático. Ele disse que “estava fazendo esse projeto, não para negar outras histórias, outras narrativas, mas tentando inserir esse trabalho no conjunto de conhecimentos sobre o passado”.2 Apresentado pela primeira vez na Bienal de Joanesburgo de 1997, The Black Photo Album / Look At Me: 1890-1950 ressoa de modo ainda mais poderoso hoje, em São Paulo, no início de outro século. A obra subverte as narrativas dominantes do Estado nacional ao se concentrar em minorias históricas, por meio de conturbadas formas de relação que somente podem ser geradas fotograficamente. 

oluremi onabanjo
traduzido do inglês por alexandre barbosa de souza

1. Achille Mbembe, “The Power of the Archive and its Limits”, in C. Hamilton et al. (ed.), Refiguring the Archive. Cidade do Cabo: David Philip, 2002, p. 21.
2. Santu Mofokeng, citado em entrevista a Tamar Garb. Figures and Fictions: Contemporary South African Photography. Göttingen: Steidl, 2011, p. 283.

Santu Mofokeng (Soweto, África do Sul, 1956 – Joanesburgo, África do Sul, 2020) foi fotógrafo. Entre seus principais temas estão as relações entre história e terra, memória e espiritualidade. Experimentou técnicas formais incomuns ao gênero documental, caso de elementos como a fumaça, a névoa e a poeira, entre outros materiais que mais ocultam que expõem o retratado. Três décadas de seu trabalho foram reunidas na publicação Stories (2019). Foi membro do coletivo Afrapix durante a maior parte da década de 1980.